LEIRIA, A NOSSA CIDADE NATAL



Para quem vive fora de Leiria, como eu, o Natal é sempre aquele momento do regresso à terra e marcar encontros uns atrás dos outros, com os amigos de longa data, é umas das prioridades. A consoada, já se sabe, está reservada para a família, pelo menos até certa hora…Esta azáfama pré-consoada deixa qualquer mãe apoquentada: é que enquanto andamos com os nossos compromissos sociais, elas não largam os tachos a fritar tudo o que é massa com uma bondade e religiosidade impressionantes. Nem para bombardear os fritos de açúcar e canela nós estamos presentes. Mas mãe que é mãe percebe esta situação. O que interessa mesmo é ter a família toda junta e com saúde na noite de Natal.

A odisseia natalícia leiriense começará logo amanhã com um jantar num estabelecimento icónico da cidade de Leiria: a Ti Gracinda. Depois do jantar do ano passado no Casarão, um dos bons restaurantes da zona, o pessoal decidiu este ano por uma estratégia mais económica, mas de nível gastronómico igualmente alto. Assim, constarão do menu umas pataniscas e uns pastéis de bacalhau e chamuças para abrir a comezaina. Depois teremos um Bacalhau à Narcisa e um Arroz de Pato à antiga. Sobremesa à escolha, cerveja e vinho da casa à descrição. Tudo por 15 paus, ou 15 euros, se preferirem. Esta espécie de confraria que se reúne uma vez por ano não anda a dormir e quer sempre o melhor para os seus confrades.

No dia seguinte, dar-se-á o tradicional “fino das 5” no Praça Caffé da Rodrigues Lobo. Aos poucos e poucos lá virão os migrantes, emigrantes e aqueles que mesmo vivendo em Leiria raramente saem da toca. O Natal em Leiria é assim: tudo fora da toca. Nem o frio glaciar da nossa querida terra nos impede de andar na rua. Depois será bonito ver o rodopio das últimas compras: a auto-prenda na Alquimia, o livro ou a Moleskine da Arquivo, as brisas do Colonial, os doces da Clarita, a peça de roupa ou acessório da Garagem e da Calvito.

Preparar-se-á então novo convívio com os amigos. Sábado à noite. Discutiremos onde se irá jantar: Manel? Cortes? Luna? João Gordo? O mais provável é irmos ao Manel dar conta da remodelação e comer um bife na frigideira acompanhado por meia dúzia de imperiais. Muita conversa, balanços, projetos para 2013, a situação do Sporting (a verdadeira crise), até que seremos expulsos do restaurante porque já serão duas da manhã. Procuraremos um bar aberto para beber mais um copo e dar mais dois dedos de conversa. Estará um frio de rachar, mas mesmo assim ainda teremos capacidade para enfrentar o balcão da Sandra e confortar o estômago antes de recolher a casa.

Domingo. Tradicionalmente dia de família, independentemente do Natal. Andaremos ali por casa a ajudar nos preparativos, exploraremos o quarto que em tempos foi nosso (esta época é propícia a rasgos nostálgicos), ocuparemos o sofá à lareira e de lá não sairemos enquanto não virmos 3000 filmes entre os quais uns 2990 muito palermas. Faz parte e saberá bem esta palermice natalícia.

Chegará finalmente o dia 24 e descobriremos que ainda falta uma ou outra prenda. Pensaremos despachar o serviço rapidamente, no entanto, iremos encontrar alguém que nos desafiará para um licor ou Martini na Praça. Vamos a ver e estará toda a gente na mesma situação: tudo no paleio e as compras ainda por fazer. Começarão a chover os telefonemas das mães a pedir isto e aquilo. Serão seis de tarde e dar-se-á, finalmente, o santo recolhimento.

Na viagem para casa sentiremos o cheiro a lareira e o frio alastrar-se-á pelos ossos adentro.

Natal. A mesa estará bonita, o bacalhau com couves e batatas agradará a pais, irmãos, tios e sobrinhos e se não agradar irá sempre haver um leitão assado à espreita para satisfazer os mais céticos. Doces. Muitos doces. Prendas. Lareira acesa noite dentro e uma garrafa de vinho tinto sempre em alerta. Mais filmes (007 de preferência) e estará o Natal passado. Muito bem passado.

Quem sou eu para meter em causa a profecia Maia, mas parece-me que estas minhas previsões andarão mais perto da realidade do que o tal fim do mundo anunciado já para amanhã. Vai uma aposta? E, já agora, a todos um BOM NATAL!

(Texto publicado na rubrica SABOR do Jornal de Leiria no dia 20 de dezembro 2012)







Comentários

  1. Caro amigo & (espécie de) confrade Johnny:
    Mais perto da realidade do que o tal fim do mundo anunciado e alimentado pelos média e por quem manda neles, era fácil de prever que sim. E nem teria sido necessário colocares a tua habitual perspicácia, sensibilidade e bom gosto desta vez ao serviço da vidência para que tal fosse uma aposta ganha à partida. Sou é gajo para apostar contigo que a profecia Maia tal como é documentada historicamente (2012 ser o ano em que se iniciaria uma mudança global de mentalidades o que futuramente e progressivamente se virá a traduzir numa nova e melhor era para a humanidade), mais lua menos lua: estava certa.
    Deve demorar algum tempo até que tal se comece a evidenciar e muito mais até que venha a ser historicamente reconhecido, mas já começou. Sou cético em relação a tudo o que envolva profecias, mas sinto e quero acreditar que esta dos Maias estava certa, e acrescento: o “fim do mundo” era não estar! :P

    PS: Aproveitei para ler algumas das tuas crónicas mais antigas que me tinham passado despercebidas e revi-me em tantas e em tanto! Obrigado por partilhares a tua refinada escrita fina, Grande abraço & Bom natal! :)

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